Em muitos dos estudos comportamentais que fazemos, independente da categoria e recortes de público, percebemos que o tema sustentabilidade aparece de forma espontânea e, geralmente, associada a uma dor que se revela nas subjetividades e entrelinhas das falas das pessoas (aliás, há pouco tempo, falamos sobre isso no PropMark - se você ainda não leu, entre aqui). A sustentabilidade permeia muitos dos comportamentos e decisões de consumo. Mas, em muitos casos, aparece mais como um conceito do que, de fato, algo incorporado e compreendido na prática. Não à toa, segundo o Índice do Setor de Sustentabilidade de 2022, 99% dos brasileiros declara querer ter um estilo de vida sustentável, mas apenas 14% está realmente mudando comportamentos no dia a dia.
A sustentabilidade é um macrotema que, por si só, já sugere um estilo de vida - e, hoje, especialmente em meio a tantos desastres e desequilíbrios ambientai - afinal, quem "não quer ser sustentável"? Mas dentro desse macrotema há diversas possibilidades e informações que, muitas vezes, nem conhecidas são. Percebemos que muitas pessoas sentem-se confusas e perdidas: o que devo fazer? Como ser sustentável para além da reciclagem e da preocupação em não jogar lixo na rua, por exemplo? Esse caminho de tangibilização da sustentabilidade parece complexo para muitos. Existe uma carência que clama por um sistema educacional didático, simples e integrado a respeito do tema.
Muitas pessoas buscam marcas que falam sobre sustentabilidade e que oferecem atributos sustentáveis - termos que viraram conceitos como "vegano"; "não causa danos aos corais"; "orgânico"; "biodegradável"; "zero emissão de carbono" etc acabam sendo pilares que se conectam facilmente com os mais diversos perfis de pessoas porque, no fundo, simbolizam signos que criam vínculos de identidade e pertencimento e facilitam o "caminho" para a adesão às práticas sustentáveis "rápidas e práticas". Vemos muitas pessoas buscando comprar de marcas que oferecem esses pilares sustentáveis mas, que na verdade, não sabem exatamente para o que servem ou o que / como isso impacta. Se apoiam neles como forma de construção de identidade sustentável - mas, de forma geral, há pouca integralidade na compreensão do que é a sustentabilidade.
Ou seja, quando vamos destrinchando a temática em campo, percebemos que a consciência ambiental e sustentável ainda é, para muitos, bastante superficial - assim como a disponibilidade para implementar medidas sustentáveis no dia a dia. Para muitos, a sustentabilidade é bem vinda desde que não exija tantas adaptações no dia a dia cotidiano. Claro que contextos sociais podem impactar nesses comportamentos mas, de forma geral, vemos que a temática ainda não conseguiu ultrapassar muitas das barreiras e distâncias.
As marcas consideradas sustentáveis representam, em muitos casos, o que o consumidor deseja ser ou, de certa forma, implementar em sua vida - as projeções acontecem a todo momento quando falamos sobre consumo. A premissa "eu me conecto com quem eu admiro porque essa é uma forma de eu me admirar também" é uma constante.
Existem diversas oportunidades para se comunicar com essas pessoas e estabelecer conexões de acordo com suas demandas, dores e desejos. Até porque, por mais que haja, ainda, pouco conhecimento sobre o tema, há curiosidade. Sustentabilidade é um macro tema - mas, dentro dele, existe um universo muito vasto que pode ser explorado, explicado, direcionado. Por que não, para além de ofertar, também educar?
Nos parece válida a reflexão a respeito de que forma as marcas podem atuar para além das práticas sustentáveis anunciadas e facilitar conexões e compreensões integradas, que possam estabelecer bases mais sólidas para com aqueles que consomem. Afinal, mais do que consumidores, as pessoas são seres humanos e, a partir dessa lente, os vínculos podem ser ainda mais relevantes . . .
Crédito da foto: Dorine Damofli
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